Como falei em outra matéria, não sou de levantar bandeiras, muito menos uso temas polêmicos para ganhar mais visualizações (do tipo falem mal mas falem de mim). Por isso, em mais de 5 anos de lançamento do portal e da revista, evitei assuntos que sabemos que mexem com a cabeça das mães: amamentação, parto, uso de chupetas e mamadeiras. Não que eu e a equipe não tenhamos opiniões, inclusive divergentes, sobre cada assunto, mas, como acredito que não há uma maneira correta de ser mãe e que as pessoas fazem o melhor que podem para criar seus filhos, acho que matérias que defendem algum padrão ou que parecem receitas de bolo não acrescentam nada.

Dito isso, também gostaria de deixar claro que sou fonoaudióloga, especialista em motricidade oro-facial, ou seja, durante 12 anos ajudei crianças a usar da melhor forma possível sua musculatura de boca e face, melhorando padrões de respiração, fala, mastigação e deglutição. Dei aula sobre o assunto na pós graduação de odontopediatria e ortodontia da PUC – Rio. Como profissional e como mãe, sou adepta e incentivadora da amamentação ao seio, tendo amamentado minha filha até os 11 meses (quando ela decidiu que não queria mais), exclusivamente do meu leite, sendo que a partir dos 3 meses, como voltei aos estudos e ao trabalho, ela revezava entre meu seio e a mamadeira com meu leite armazenado.

Agora ao assunto: chupeta!

Vejo campanhas fortíssimas, incluindo a do governo, contra o uso das chupetas, com a alegação de que poderia prejudicar o aleitamento materno, porém, a sucção não nutritiva é uma necessidade inata dos bebês, tanto que, muitas vezes, o bebê aparece chupando o próprio dedo na ultrassonografia pré-natal! A sucção ajuda a acalmar os pequenos já na vida fora da barriga da sua mãe (não à toa, seu nome em inglês é “pacificador”), aumenta os movimentos peristálticos melhorando a digestão e minimizando as cólicas, acelera a passagem do alimento do estômago para o intestino, esvaziando-o mais rapidamente, minimizando o risco de refluxo gastro-esofágico. Além disso, alguns estudos ao redor do mundo mostraram que crianças que sugam ao dormir são menos propensas à morte súbita.

Aí, vão argumentar que, então, o mais natural seria deixar a criança chupar o dedo, certo? Bem, o dedo não é macio ou flexível, para sugá-lo, a posição da língua e os movimentos são bem diferentes daqueles quando a criança está ao seio, na sucção digital, ocorre o efeito alavanca onde a ponta do polegar empurra a arcada superior para frente enquanto a base do dedo força a arcada inferior para trás, também ocorre uma pressão muito grande no palato (céu da boca), deixando ele alto e estreito, atrapalhando, inclusive, a respiração nasal. E, como melhor argumento usado pelas mães adeptas à chupeta, você não tem como sumir com ele ou controlar o quanto a criança poderá usá-lo!

Há tempos, os fabricantes de chupetas que são sérios e responsáveis no seu envolvimento com a maternidade, vem investindo em pesquisas e mantendo especialistas em saúde por perto para orientar nas melhores práticas para que esse objeto não prejudique o desenvolvimento do bebê. Surgiram as chupetas ortodônticas, com formato mais adequado, o material usado na sua produção passou a ser cada vez mais macio e próximo a textura da pele para que seja o mas próximo do seio materno e existem até modelos com a base mais fina diminuindo muito a abertura labial com intuito de minimizar a respiração bucal e a flacidez da musculatura oral.

Sim, a chupeta pode levar à alterações do desenvolvimento crânio-facial e prejudicar a fala e respiração, mas isso, quando a pessoa está mal orientada, permitindo o uso da chupeta por muitas horas, depois dos 24 meses de idade, quando a criança usa a chupeta de forma incorreta (mordendo, de lado na boca, com o aro externo para dentro do lábio…). Sem contar que o estrago da chupeta é, na maioria das vezes, menor que a do dedo, que além de afetar o crescimento facial, a respiração e a fala, ainda pode se tornar um problema devido à higiene, já que as mãos passam por vários brinquedos, chão e bichos e depois vão à boca.

Por essas razões, eu não só não sou contra, como sou a favor do uso da chupeta. Mas isso não quer dizer que acho que todo mundo deve dar chupeta à cria. É uma opção pessoal, como inúmeras outras nessa montanha russa que é a maternidade.

Um abraço,

Cynthia Jacques, Diretora da KIDS in

 

 

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