As crianças brasileiras são as que entram mais cedo em redes sociais – com a idade média de nove anos, enquanto que a mundial é de 12 -, e os pais brasileiros são os menos rígidos com relação à idade ideal para os filhos criarem uma conta nesses tipos de plataforma. Parece apenas uma lógica de “causa e efeito”, mas, saiba que esses dados fazem parte de um estudo chamado “Internet Safety for Kids & Families”, feito pela empresa americana de segurança, Trend Micro. Uma boa notícia é que, apesar de permitirem o ingresso dos filhos mais cedo, os pais brasileiros são os que mais monitoram as crianças assim que passam a utilizar a internet no dia a dia, em comparação a outros pais mundo afora. E a preocupação com a segurança é o principal motivo. Pensando nisso, a KIDS in entrevistou Erika Kobayashi, coordenadora de programas da organização brasileira Childhood Brasil (que atua no país há 13 anos), com o objetivo de orientar os pais para conduzirem as crianças a um uso mais consciente das redes sociais.

KIDS in – Com quantos anos é recomendável que os pais introduzam as crianças na internet e, mais especificamente, nas redes sociais?
Erika Kobayashi – O primeiro ponto importante em relação a essa pergunta é que as crianças não são introduzidas ao uso da tecnologia. Elas nascem em um mundo em que a tecnologia é um mediador de relações. Não existe condição online ou offline ou entre o real e o virtual para as novas gerações. O mundo virtual é o mundo real.

KI – Em sua opinião, qual o motivo para os pais deixarem as crianças de hoje tão livres para usarem a rede como quiserem?
EK – As redes sociais representam mais um espaço de circulação, interação, socialização e de brincadeira. É importante, no entanto, conhecermos as oportunidades e os riscos inerentes a esse espaço para bem orientar as crianças quanto ao seu uso com segurança. Muitos pais acreditam que os filhos estão seguros porque estão brincando dentro de casa. Ou que podem ficar o tempo todo no computador sem monitoramento, porque há antivírus ou ferramentas de controle de conteúdo. Apenas colocar dispositivos no computador e deixar o filho com essa ‘babá eletrônica’ não resolve o problema. Crianças e adolescentes não se conectam apenas em casa, e não há nenhuma garantia de que outros locais tenham esses mesmos recursos. Além de que, recursos tecnológicos, para o bem e para o mal, são atualizados constantemente.

KI – Quais os perigos que o uso de redes sociais de forma precoce pode trazer para as crianças?
EK – O risco principal é que não sabemos, de fato, com quem estamos falando do outro lado do computador. As crianças, principalmente, não têm consciência disso – e muitos adultos também não. Um passo muito importante é conscientizar os adultos para que eles possam conscientizar seus filhos. É o ‘não fale com estranhos’ do mundo contemporâneo. ‘Não fale, não aceite e não forneça informações sobre você e sua família para estranhos’. Os alertas de cuidados não são nem de longe diferentes dos que damos para os nossos filhos quando começam a se relacionar com o mundo ‘real’ e com outras pessoas. A regra é a mesma, e o mundo, nesse sentido também.

KI – Qual é melhor forma de prevenção?
EK – Para a Childhood Brasil, como organização social que trabalha pela promoção dos direitos das crianças e dos adolescentes contra toda e qualquer forma de violência sexual, a melhor e mais eficaz forma de prevenção é o diálogo. Pais, responsáveis e educadores precisam falar abertamente sobre as experiências das crianças e adolescentes e por onde e como navegam. O diálogo aberto, livre de julgamento ou repressão, abre um espaço para que possam compartilhar sem medo suas experiências e dão oportunidade para que os adultos possam orientar sobre comportamentos seguros ou até agir caso identifiquem uma situação de risco real. Algumas perguntas básicas podem ser orientadoras para esse diálogo: os pais sabem como as crianças estão usando o computador? De quem forma elas interagem com outras crianças na rede? Seu filho está abrindo a webcam para desconhecidos? Não se trata de gerar pânico, menos ainda de olhar a internet como um ambiente perigoso, mas de trabalhar a consciência dos pais a respeito de riscos para que eles possam orientar seus filhos sobre como usar as tecnologias de informação e comunicação de forma ética e segura.

Saiba mais sobre navegação na internet com segurança:
www.childhood.org.br/programas/navegar-com-seguranca

Crédito da foto: Flickr de Karen Blumberg

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